sexta-feira, 16 de abril de 2021

Não me pegue não



Infelizmente grande parte dos nossos capoeirista tem conhecimento muito incompleto das regras da capoeira, pois é o controle do jogo que protege aqueles que a praticam para que não descambe excesso do vale tudo” (M. Pastinha)

A Capoeira Angola possui normas de conduta que, quando seguidas, contribuem para um justo desenrolar dos jogos. São as regras que o mestre Pastinha tanto enfatizou em seus Manuscritos. Procedimentos que colocados em prática dão forma ao ritual, nos permite identificá-lo como tal e diferenciá-lo de outro qualquer.

Essas regras não estão catalogadas ou enumeradas em um manual, e muitas Escolas de Capoeira Angola divergem sobre determinados assuntos. “Cada roda tem seu fuso e cada casa tem seu uso”. 

É preciso aceitar essas divergências no interior da Capoeira Angola. Porém, existem normas baseadas em princípios e valores afro-brasileiros que são senso comum, as quais devemos buscar conhecer e respeitar. 

Orientado por essas regras, o angoleiro é livre para expressar-se na roda, não devendo negligenciá-las a fim de obter “vantagens” ou evitar “prejuízos”. Agir com liberdade não significa agir a bel-prazer. Seja onde for, precisamos respeitar certos fundamentos.

Uma atitude cada vez mais comum nas rodas é o uso das mãos no parceiro. Os verbos puxar, empurrar, agarrar nunca foram tão acionados na Capoeira Angola como nos dias de hoje. 

É contraditório, ao final do jogo, virar a palma das mãos para não sujar o parceiro se, durante, você usá-las para “pegar” o camarada ou se defender. Assim como é completamente incoerente um discurso que associa os saberes da Capoeira Angola às religiões de matriz africana aliado a uma prática de jogo que não se furta de colocar a mão na cabeça do parceiro.

Que possamos respeitar e colocar em prática os ensinamentos daqueles que vieram antes de nós!!! 

“Todos os mestres tem por dever fazer ciente que é falta usar as mãos no seu adeversario; se não fizer assim, não prova ser mestre, os que tem educação prova a sua decensia jogando com seu camarada e não procurar conquista para enporcalhar seu companheiro” (M. Pastinha) 

“ Capoeirista bom não pega você pra lhe derrubar de mão, tem que derrubar você é de pé e cabeça” (M. Waldemar) 

“ Capoeira de hoje tem soco, tem pontapé, com Mestre Bimba não tinha nada disso. Não, se um aluno jogasse na rua e tocasse a mão na roupa de um mestre ... VIXE! Tinham o costume de jogar todo de branco, roupa branca, gravata, camisa muito bonita, sapato engraxado. Aquele que tocasse na roupa de um mestre desse ... Perguntava: “Quem é sem mestre?”. “Meu mestre é fulano”. “Diga a ele que treinam pouco, tanto você quanto ele. Diga pra lhe dar educação de jogo. Sujou minha roupa”. (M. João Grande)

Autor: Lucas Machado Goulart

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