PDR: O senhor poderia nos contar como foi seu início na Capoeira Angola e em outras manifestações da cultura de matriz africana como: o afoxé, o samba de roda…? Como foi esse processo? A capoeira que te levou ou o senhor já tinha esse contato antes?
MESTRE PLÍNIO: Legal! Então, o meu primeiro contato com
cultura de matriz africana é com a religiosidade através dos meus familiares,
do meu pai principalmente. Depois eu fui descobrindo que meus avós também eram,
já não mais praticantes, mas na minha caminhada eu fui encontrando sinais,
perguntando e eles foram falando pra mim. Mas o primeiro contato mesmo foi
através do terreiro de candomblé, frequentando festas e tudo. E nesse mesmo
lugar eu tive o prazer de conhecer algumas pessoas que jogavam capoeira, que
eram frequentadores do terreiro e assim eu comecei. Então eu entro através da
religião de matriz africana e descubro a capoeira. Me afasto inclusive da
religião durante um período porque eu estava bem empenhado dentro da capoeira,
praticando e buscando essas informações. Aí dentro da capoeira mesmo eu fui
tendo a sorte de encontrar grandes referências. Dentre elas, a primeira pessoa
que eu posso falar é Mestre Gato que além de ser um grande tocador de berimbau
era também ogã. Ele fazia show de maculelê, puxada de rede e aí eu meus amigos
na época aprendíamos os passos que ele ensinou, e tudo isso era tocado em
atabaque, e aí a gente tinha esse interesse de aprender a tocar atabaque
também. Aí a partir desse contato com Mestre Gato começa a ter esse retorno pra
religiosidade, mas muito para aprender mesmo essa questão musical da
religiosidade africana. E a partir disso na minha caminhada de capoeira eu tive
o privilégio de trabalhar com inúmeras pessoas, muitos músicos, na própria
capoeira tinha muitos músicos na década de 80. Aqui na cidade de São Paulo eu
tive o prazer de treinar com Paulinho Mordomia que era pandeirista do Almir
Guineto, que me ajudou muito nessa caminhada e até no final da década de 80
quando eu encontrei o Mestre Moa do Katendê. Esse sim foi o grande responsável
por me introduzir nessa parte do tambor. Não só na parte da musicalidade da
religião africana, candomblé no caso, mas também no samba reggae, no afoxé e no
samba duro, que é o samba corrido que é feito na época de São João em Salvador.
E como nós trabalhávamos juntos e na aula dele de percussão ele sempre me
chamava pra tocar por conta da capoeira, eu fui mergulhando nisso cada vez
mais. Mas eu considero a introdução mesmo no universo da capoeira, quem me
despertou foi o Mestre Gato, principalmente para berimbau. Essas duas
referências são o impulso inicial, o berimbau com Mestre Gato e com Mestre Moa
já no final da década de 80. Eu estava com 9 ou 10 anos de capoeira quando
conheci Mestre Moa, era bem jovem, tinha 18 ou 19 anos. Foi onde eu mergulhei
mesmo nessa outra parte que era o samba de caboclo, barravento, cabula, congo
de ouro… A partir daí foi que eu mergulhei mesmo nesse universo. Então meu
início se dá por conta da religiosidade, porém, foi na capoeira que eu tive
esse start de prestar mais atenção a esses detalhes da musicalidade, eu devo à
capoeira isso.
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