terça-feira, 20 de abril de 2021

Glossário

 

Um dos modos de transmissão de conhecimento nas culturas tradicionais é a oralidade. O ensino através da escuta, da contação de histórias, da conversa. Nessa seção apresentaremos palavras que foram transmitidas ao longo de muito tempo. A intenção passa longe de querer indicar respostas prontas e acabadas, mas reunir os possíveis significados que cada uma carrega. Sendo assim sua forma, seu uso e seu significado podem variar de acordo com a localidade. São palavras, termos e expressões recorrentes na capoeira e em manifestações afro-brasileiras. Seus significados foram coletados em fontes diferentes, desde conversas com capoeiristas e também consulta em estudos de pesquisa. É mais um convite a se aventurar pelo rico universo de conhecimento e sabedoria da capoeira angola.

 

Aquindenrreis: Palavra inexistente em dicionários oficiais de língua portuguesa. Geralmente cantada nas rodas de capoeira durante a louvação. (Iê aquinderreis, camará!)

1 - Possível resultado de uma corruptela de “aqui tem rei”. Uma forma de se impor na roda, dizendo que ali tem alguém que está à frente. 

2 - Existe um termo da língua portuguesa mais clássica que remonta ao tempo da colonização, que é “aqui del rei” que está relacionado a um pedido de ajuda ou socorro. 

 

Baobá: Há cerca de 9 espécies de árvores do gênero Baobá conhecidas pelo continente africano, inseridas no gênero das plantas Adansonia. Essa árvore originária da África é uma das mais antigas da terra e é cercada de simbologias. Sua aparência tem como característica a grande dimensão de altura e tronco. Por ter o tronco oco, as pessoas também o utilizam para estocar água em períodos de estiagem de chuva. Seus galhos podem ficar desfolhados grande parte do ano. Estima-se que seja necessário cerca de 100 pessoas para abraçar o tronco todo de um baobá adulto. Árvore de forte presença nas comunidades e sua plantação acontece como marca da presença de um determinado povo no lugar.  

Dentro da cultura iorubá é considerada a guardiã da alma e a da vida. Tem ligação entre os  planos físico e espiritual. Por ser uma árvore presente em narrativas muito antigas, acredita-se que ela guarda memórias de tempos ancestrais. 

Capoeira:  As raízes etimólogicas da palavra "capoeira" não apontam uma origem precisa ou um significado apenas. Na língua guarani quer dizer “mato que não existe mais”. Nos ditos populares pode se referir também a um “mato qualquer”. Há também no Brasil uma ave pequena chamada "capoeira" que também é conhecida pelo nome de “uru” que tem movimentos parecidos com aqueles executados nas rodas. A palavra também se refere a um cesto ou lugar de guardar galinhas. No livro "Capoeira Angola: Estudo Socioetnográfico" o autor Waldeloir Rego lista mais de 30 possíveis significados e variações desse vocábulo. 

Iúna: Espécie de ave de nome científico “Anhima cornuta”. Iúna ou anhuma que em tupi significa “ave preta".  Também é conhecida como “ave unicórnio” pelo chifre característico em sua testa.

Tida como símbolo místico, acredita-se que a ave promova a ligação entre o plano físico e espiritual.

A Iúna, na capoeira, dá nome a um toque de berimbau, que pode variar de acordo com os grupos. Grupos mais tradicionais de capoeira angola não utilizam esse toque durante a roda, é um toque fúnebre, associado à passagem de alguém para a o plano espiritual. 

Há também, aqueles que utilizam o toque durante a roda e associam a um tipo de jogo, no qual apenas mestres podem jogar.  

Ticum:  Ticum ou tucum, de nome científico Bactris setosa, é uma espécie de palmeira. É amplamente conhecida na capoeira por causa da história de Besouro Mangangá. Segundo contam as histórias, Besouro foi morto devido ao ataque de faca de ticum. A madeira além de ser muito forte e resistente também carrega o poder de quebrar mandingas e atravessar um corpo fechado. 


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