Um dos modos de transmissão de conhecimento nas culturas tradicionais é a oralidade. O ensino através da escuta, da contação de histórias, da conversa. Nessa seção apresentaremos palavras que foram transmitidas ao longo de muito tempo. A intenção passa longe de querer indicar respostas prontas e acabadas, mas reunir os possíveis significados que cada uma carrega. Sendo assim sua forma, seu uso e seu significado podem variar de acordo com a localidade. São palavras, termos e expressões recorrentes na capoeira e em manifestações afro-brasileiras. Seus significados foram coletados em fontes diferentes, desde conversas com capoeiristas e também consulta em estudos de pesquisa. É mais um convite a se aventurar pelo rico universo de conhecimento e sabedoria da capoeira angola.
Lemba
"Lemba eu, lemba
Lemba do barro vermelho
Lemba do barro vermelho, colega véio
Lemba do vermelho barro
Lemba eu, lemba
Lemba do barro vermelho" (domínio público)
Antes de enumerar os significados da palavra “lemba” é relevante salientar que a sonoridade e a escrita da palavra podem variar na fala de cada povo, sendo assim muitos sentidos podem se convergir em uma palavra por causa dessas semelhanças: 1- A região onde hoje está localizado o Zimbábue é o lar de um povo de nome “Lemba”. Esse povo tem descendência de judeus, o que pode ser observado em seus hábitos culturais; 2- Lembá é um nkisi dos candomblés de angola (o equivalente ao orixá Oxalá da nação Ketu) e o barro vermelho é a matéria-prima usada na criação dos homens; 3- Na língua iorubá há também a palavra “Elegbá” de pronuncia “lebá” que tem seu significado associado a Exu.
Barravento
"Valha-me Deus, Senhor São Bento
Eu vou cantar meu Barravento" (domínio público)
Toque de atabaque em determinadas linhas de candomblé e
umbanda. Alguns grupos de capoeira também o reproduzem no berimbau. É uma
palavra que também é usada para descrever o comportamento corporal das pessoas
em terreiros antes de receber orixás. Já no vocabulário náutico a palavra
significa “por onde sopra o vento”.
Mandinga
"Quem não pode com mandinga não carrega patuá" (domínio público)
Mandinga é o nome que se refere ao grupo Mandinga, região da África Ocidental mais especificamente onde hoje se localiza Mali e onde estão os rios Niger, Senegal e Gâmbia. Esse povo, também conhecido por Malinkéles, eram conhecidos por serem exímios feiticeiros. Com a chegada desses povos no Brasil o termo mandinga ficou ligado às práticas místicas como por exemplo o nome das "bolsas de mandinga" ou "patuás" que são amuletos de guarda a quem os usa. No universo da capoeira usar a palavra "mandingueiro(a)" para caracterizar alguém significa dizer que essa pessoa tem uma malícia no seu modo de jogar ou que tal capoeirista demonstra ter domínio não só físico mas também mágico do jogo. Nas mandingas estão guardados muitos enigmas da capoeira.
Cabula
O termo de Kimbula, palavra de origem banto, que
significa “Lugar de afastamento dos males” e, denominava um toque que era
o chamamento quilombola para resistência. A região do bairro de Salvador onde
hoje está situado o Cabula foi povoada por negros, principalmente de origem do
Congo e da Angola, formando as primeiras comunidades da região. Esses povos
tocavam e dançavam um ritmo quicongo religioso, chamado de kabula. A presença
desses povos se tornou característica e o bairro passou a ser reconhecido por
ser a região dos "Cabula". Também designa um toque de samba e
nos terreiros de candomblé, em especial da nação de Angola, podendo
também ser chamado de "cabila".
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