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-Lucas Machado Goulart
A Capoeira Angola dispõe de uma série de recursos que nos
encantam por sua beleza. Uns podem ser tocados pelo diálogo dos corpos em
movimento, outros pela sonoridade dos instrumentos, pelo clima de mistério que
envolve as rodas ou diversas outras artimanhas que esta arte tem para chamar
nossas atenções e atrair os olhares mais desavisados.
Uma dessas belezas, em especial, é a elegância com que
alguns capoeiras se apresentam, e tudo que envolve essa qualidade tão distinta.
Vestidos a caráter, eles não passam um golpe em vão, demonstram uma singular
economia de movimentos, que são executados com leveza, segurança e precisão.
“Dão porrada três por quatro e nem se despenteiam” ou, na maioria das vezes,
apenas criam a situação e freiam o pé para não machucar, contendo todo o perigo
de seus golpes na beleza de seus movimentos.
A elegância pode ser observada a partir de dois elementos, a
vestimenta e o comportamento, que se complementam e, necessariamente, devem
coexistir. Logo, não basta calçar um bom sapato, vestir uma roupa alinhada e
usar um bom chapéu, se a pessoa não souber “carregar” essa roupa. O adorno, por
si só, não faz de ninguém “mais um da galhardia”.
Certa vez, pude presenciar uma cena que me chamou a atenção.
Um rapaz que há pouco tinha começado a treinar, chegou para a roda com um
chapéu panamá. Um capoeirista mais antigo, com toda educação, o chamou no canto
e falou pra ele reparar ao redor quem estava de chapéu, que eram os mestres e
capoeiras já bem experientes. Isso foi uma lição para ele e para mim, que nunca
tinha parado pra pensar nisso.
É bonito se vestir de forma elegante numa roda, mas é
preciso entender que para isso é necessário também saber se portar com
elegância, o que requer conhecimento e experiência. Na medida em que o
capoeirista não tem condições de corresponder ao que a situação demanda, o que
era para ser algo positivo pode acabar se tornando um grande empecilho durante
o jogo. É dissonante chegar numa roda vestido de branco e sair com a roupa toda
suja, ou ficar interrompendo o jogo para pegar o chapéu que não para na
cabeça.
Deixo claro que ninguém vai ser repreendido por usar um
chapéu panamá ou se vestir de maneira distinta na roda. Muito menos que esse
tipo de vestimenta é reservada aos mestres. Mas é preciso entender que “calça
de homem não dá em menino”.
Outra questão interessante sobre a elegância na Capoeira
Angola é o seu significado social. A beleza que esses capoeiras expressam, no
vestir e portar-se, é um verdadeiro tapa na cara de uma sociedade racista como
a nossa, que estigmatiza a imagem do negro e tudo que a ele está ligado,
sobretudo sua cultura.
A galanteria na Capoeira Angola expressa esse grande
dualismo mundano, a lealdade e a falsidade, a luta e a dança, a força e a
leveza. É amorosa e é perversa, é negativa e é positiva, a elegância tem a
capacidade de absorver os opostos e os colocar em prática no momento mais
oportuno.
"Compreende melhor quem vê a luta. Ela parece uma
dança, mas não é não. Capoeira é luta, e luta violenta. Pode matar, já matou.
Bonita! Na beleza está contida sua violência. Os meninos estão só mostrando, os
golpes passam raspando ou são contidos antes de atingir o adversário. Mas mesmo
assim ela é bonita.” (Mestre Pastinha)
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