Mãe Marlene: Beira-Mar é uma linhagem de Ogum, tem Ogum e
tem as ramificações, né? Então, tem o Ogum Beira-Mar. A gente canta pra Ogum,
tem Ogum Iara, Ogum Megê, Ogum Naruê e tem o Ogum Beira-Mar. Então a gente
canta pra ele que é uma qualidade de Ogum.
Mãe Irene: Ogum Beira-Mar mora na beirada da praia, na beira
mar. O campo dele de atuação, de defesa, de guarda, de proteção é a beira da
praia. Quando nós vamos no mar, lá em Santos, a gente primeiro saúda ali, além
de saudar a gira dos guardiões, que tem também os guardiões da beira da praia e
tem as moças também. Então a gente saúda pedindo o Seu Ogum Beira-Mar a
proteção para que nós possamos entrar na água, para que nós possamos realizar
os nossos trabalhos em paz, com tranquilidade, com uma energia boa. A guarda
dele na intenção de toda aquela comunidade que está ali. Então é um orixá que é
muito cultuado não só na Umbanda, eu creio que no Candomblé também deve ter
algum segmento de Ogum Beira-Mar. Mas a finalidade dele para nós, dentro da
Umbanda, é essa: é de proteção, é de guarda, de defesa. Ele é um sentinela ali
na beira da praia, fica circulando ali. E até pra gente poder entrar nas águas,
você não pode adentrar um espaço que é de outro sem você pedir licença.
PDR: Alguns pontos quando são cantados para Exú, fazem
referência à Ogum. Aqui já ouvi um ponto que diz: “Senhor Ogum, Senhor me dá
licença para seu Exú passar…” Por que dessa relação entre Ogum e Exú?
Mãe Irene: Porque o centro de atuação de Ogum é o meio da
encruza. Então, você não pode chegar na encruzilhada pra fazer qualquer coisa,
sem você ir lá no meio e pedir licença pra Ogum, porque ele que é o guardião.
Então, Ogum direciona energia para as entidades que são os Exus. Então a gente
pede licença pra ele, pra que nós possamos ou arriar alguma obrigação, ou conversar
com algum guardião, que são no caso os Exus.
PDR: Na Capoeira existe uma música assim: “Lembá ê Lembá…
Lembá do barro vermelho…” que eu sei que se refere ao lado espiritual. Aqui
nunca ouvi essa palavra, mas a senhora tem conhecimento sobre isso?
Mãe Irene: Essa é uma palavra de língua africana. A Umbanda,
por ser uma religião brasileira, a gente quase não usa o dicionário em língua
africana. É tudo rezado, cantado em português. Eu sei que existe uma palavra
Elegbá que faz referência a Exú, mas também tem Lembá no candomblé (Angola), o
Oxalá que nós falamos, eles falam Lembá. Tem essa diferença também.
PDR: Sobre a circularidade, em muitas festas de caboclo eu
reparo que quando eles vão saudar eles giram em sentido anti-horário. Por que
que é anti horário?
Mãe Irene: Por conta da energia da casa. Numa gira ou
qualquer coisa que você vai fazer, pra que tenha uma energia boa, essa
circularidade tem que ser movimentada. Não pode, por exemplo, uma turma rodar
anti-horário e o outro vem ao contrário. Isso vai quebrar a energia e a
harmonia do trabalho. Vamos supor que os caboclos vêm tudo naquele mesmo
sentido, de descarregar, de pegar toda aquela energia negativa que eles estão
tirando das pessoas, então eles estão trabalhando num mesmo sentido, mesmo que
seja cada um de um lugar, não importa. O que importa é como a energia está
circulando naquele momento dentro daquela casa. Embora, você pode reparar, roda
todo mundo pelo anti-horário e vai embora, nessa girada, nessa circular eles
pegam tudo que é negativo pra levar e deixar o positivo. Funciona como um
redemoinho, o redemoinho vai sempre num mesmo sentido. Ele já vem destinado a
trabalhar naquele dia daquela forma. “Ah, Mãe Irene, mas e se acontecer de um
vir e às vezes fazer o contrário?” mas que pode, pode. Eles sabem o que estão
fazendo.
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