terça-feira, 10 de agosto de 2021

Entrevista: MÃE IRENE DE NANÃ E MÃE MARLENE DE XANGÔ

 


Entrevista exclusiva com Mãe Irene de Nanã e Mãe Marlene de Xangô realizada para a Revista Por Dentro da Roda
Leia um trecho a seguir
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PDR: Nas rodas de capoeira existem algumas músicas que fazem referência à “Beira-Mar”, e aqui, no terreiro, também já escutei vários pontos que sobre “Beira-Mar” também. Vocês poderiam falar um pouco sobre essa entidade? 

Mãe Marlene: Beira-Mar é uma linhagem de Ogum, tem Ogum e tem as ramificações, né? Então, tem o Ogum Beira-Mar. A gente canta pra Ogum, tem Ogum Iara, Ogum Megê, Ogum Naruê e tem o Ogum Beira-Mar. Então a gente canta pra ele que é uma qualidade de Ogum. 

Mãe Irene: Ogum Beira-Mar mora na beirada da praia, na beira mar. O campo dele de atuação, de defesa, de guarda, de proteção é a beira da praia. Quando nós vamos no mar, lá em Santos, a gente primeiro saúda ali, além de saudar a gira dos guardiões, que tem também os guardiões da beira da praia e tem as moças também. Então a gente saúda pedindo o Seu Ogum Beira-Mar a proteção para que nós possamos entrar na água, para que nós possamos realizar os nossos trabalhos em paz, com tranquilidade, com uma energia boa. A guarda dele na intenção de toda aquela comunidade que está ali. Então é um orixá que é muito cultuado não só na Umbanda, eu creio que no Candomblé também deve ter algum segmento de Ogum Beira-Mar. Mas a finalidade dele para nós, dentro da Umbanda, é essa: é de proteção, é de guarda, de defesa. Ele é um sentinela ali na beira da praia, fica circulando ali. E até pra gente poder entrar nas águas, você não pode adentrar um espaço que é de outro sem você pedir licença.

 PDR: Alguns pontos quando são cantados para Exú, fazem referência à Ogum. Aqui já ouvi um ponto que diz: “Senhor Ogum, Senhor me dá licença para seu Exú passar…” Por que dessa relação entre Ogum e Exú?

 Mãe Irene: Porque o centro de atuação de Ogum é o meio da encruza. Então, você não pode chegar na encruzilhada pra fazer qualquer coisa, sem você ir lá no meio e pedir licença pra Ogum, porque ele que é o guardião. Então, Ogum direciona energia para as entidades que são os Exus. Então a gente pede licença pra ele, pra que nós possamos ou arriar alguma obrigação, ou conversar com algum guardião, que são no caso os Exus.

 PDR: Na Capoeira existe uma música assim: “Lembá ê Lembá… Lembá do barro vermelho…” que eu sei que se refere ao lado espiritual. Aqui nunca ouvi essa palavra, mas a senhora tem conhecimento sobre isso? 

 Mãe Irene: Essa é uma palavra de língua africana. A Umbanda, por ser uma religião brasileira, a gente quase não usa o dicionário em língua africana. É tudo rezado, cantado em português. Eu sei que existe uma palavra Elegbá que faz referência a Exú, mas também tem Lembá no candomblé (Angola), o Oxalá que nós falamos, eles falam Lembá. Tem essa diferença também.  

 PDR: Sobre a circularidade, em muitas festas de caboclo eu reparo que quando eles vão saudar eles giram em sentido anti-horário. Por que que é anti horário?

 Mãe Irene: Por conta da energia da casa. Numa gira ou qualquer coisa que você vai fazer, pra que tenha uma energia boa, essa circularidade tem que ser movimentada. Não pode, por exemplo, uma turma rodar anti-horário e o outro vem ao contrário. Isso vai quebrar a energia e a harmonia  do trabalho. Vamos supor que os caboclos vêm tudo naquele mesmo sentido, de descarregar, de pegar toda aquela energia negativa que eles estão tirando das pessoas, então eles estão trabalhando num mesmo sentido, mesmo que seja cada um de um lugar, não importa. O que importa é como a energia está circulando naquele momento dentro daquela casa. Embora, você pode reparar, roda todo mundo pelo anti-horário e vai embora, nessa girada, nessa circular eles pegam tudo que é negativo pra levar e deixar o positivo. Funciona como um redemoinho, o redemoinho vai sempre num mesmo sentido. Ele já vem destinado a trabalhar naquele dia daquela forma. “Ah, Mãe Irene, mas e se acontecer de um vir e às vezes fazer o contrário?” mas que pode, pode. Eles sabem o que estão fazendo.



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