terça-feira, 10 de agosto de 2021

Entrevista: MESTRE LIMÃOZINHO E DONA ROSINHA


Entrevista exclusiva com Mestre Limãozinho e Dona Rosinha realizada para a Revista Por Dentro da Roda
Leia um trecho a seguir
Leia na íntegra: DOWNLOAD 


PDR: Como foi o primeiro contato de vocês com a capoeira, com o samba de roda, com esse meio da cultura popular? Quais são as primeiras lembranças que vocês têm? 

Dona Rosinha: Eu tive contato primeiro com a capoeira, por intermédio do meu irmão Silvio Acarajé. E assim foi até quando eu fiz oito, nove  anos. Quando eu vi pela primeira vez o samba não era nesse formato que tem no recôncavo. Aquele som já me deixou em alerta porque alguma coisa ficou gravada na minha memória, um som que eu gostava de ouvir. A percursão me causava mais impacto. Eu comecei a capoeira com 5 anos e joguei até mais ou menos uns vinte e poucos, depois eu parei, eu me interessei mais pelo samba de roda. Pelo samba e depois defini pelo samba de roda. Assim foi o início de tudo comigo. Eu só vim a definir mesmo o formato para o samba de roda quando eu passei a estudar mais sobre o assunto, através da vivência. Logicamente, depois que a gente casou isso não foi tão difícil, porque ele sendo do Recôncavo a junção do interesse e da cultura foi mais fácil de acontecer.

Mestre Limãozinho: Eu já vi primeiro o samba de roda. Lá em Santo Amaro da Purificação, lá na casa da minha avó, ela sempre fazia samba com meus tios, meu pai, minha tia, minha mãe, os primos, primas. Quando tinha aniversário, quando tinha batizado de algum sobrinho, primo, a festa que fazia era samba de roda. Mas era um samba de roda na palma da mão, usava a bacia, usava as colheres… Era mais na colher e na palma da mão, às vezes nas bacias e nas garrafas de cerveja. Com meus tios, primos e pais… Depois meu tio Paulo Limão me leva pra capoeira, toda vez que terminava também as festividades ele fazia o samba de roda. Aí já fazia o samba de roda com berimbau, né? Berimbau viola, e a gente fazia na palma da mão. Tinha também o pandeiro, o atabaque. Já na casa da minha avó não, não tinha todos esses instrumentos, era só na palma da mão, na colher e, quando meu pai e um tio meu conseguia, algum dos violeiros que tinha por lá. Um violeiro que eu sempre lembro, que ia quando eles conseguiam se conectar com ele, se chamava Mestre Paranaguá! Ele se chamava Paranaguá do Banjo. Na verdade ele não usava uma viola machete, ele usava um banjo. Ele usava a viola, mas numa ida dele pra Salvador ele voltou com um banjo, aí o pessoal apelidou ele de Paranaguá do Banjo. Mas ele fazia um samba que ia até de manhã. Não era com toda essa aparelhagem que tem hoje. Na casa da vó era na palma da mão, era um que chegava e tirava um samba e aí já começava. Fim de semana, às vezes quando chegava algum parente, às vezes na festa da lavagem da purificação em Santo Amaro, festa de Cosme e Damião, festa de Nossa Senhora da Conceição, das rezas. Agora mesmo, no mês de junho tem as novenas de Santo Antônio, então rezava Santo Antônio lá em casa e cada vez que terminava o Santo Antônio era no licor de jenipapo, aí a palma começava, aí pronto… Unia o sagrado e o profano!

PDR: Sobre essa forma como vocês foram aprendendo, tanto o samba de roda quanto a capoeira, existia um momento para se ensinar, vamos dizer assim, uma aula, ou era fazendo, se aprendia fazendo?

Mestre Limãozinho: Eu praticamente nunca tive aula. Na verdade o que nós ensinamos, eu e ela,  nós montamos um jeito de fazer oficina e de dar aula porque nos lugares que eu ia, e ela sempre junto, chegava lá pedia pra eu cantar um samba, eu cantava um samba, ela entrava e sambava, aí o pessoal perguntava pra ela: “Dona Rosinha, venha aqui me ensina esse passo”. Então montamos um modo de repassar para as pessoas uma oficina de samba de roda. Aí a gente foi montando, eu fiquei com a parte de ensinar as cantorias, ensinar as instrumentações, ensinar o bater do pandeiro e a outra parte ficou com ela, a parte das meninas.

Dona Rosinha: Foi assim! O samba em si tem diversas vertentes. O samba de roda tem um jeito próprio de se sambar, o que se movimenta no corpo, né? Não é tudo que se movimenta. E principalmente o pisar. Aí eu fui estudar sobre isso. Estudei muito, viajei muito pra vários lugares e fui acostumando meu corpo a fazer isso. E aí eu falei: “bom, pra que eu pudesse ensinar, precisava montar um jeito que fosse fácil de se aprender, tanto na didática quanto na prática.”. E fui montando, pegando um pedacinho daqui, um pedacinho de lá e fui trabalhando naquilo, assim consegui conciliar a didática com a prática para formar a aula.


 

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